10.1.06

e para não restar dúvidas...

Algures num comentário perguntaram-me qual destes enunciados está conforme a sintaxe do português:

"...e para não restar dúvidas..."
"...e para não restarem dúvidas..."

Trata-se de uma oração subordinada adverbial final, segundo a nova terminologia linguística. Adverbial pois comporta-se como um advérbio. A gramática generativa chama-as de obliquos. Acontece que a oração em causa é uma oração infinitiva, apresentando o verbo no infinito flexionado (infinitivo pessoal) num caso e não flexionado noutro (infinitivo impessoal). Ora, estas orações são chamadas de infinitivas reduzidas ou, na nomenclatura inglesa, small clauses. Assim, esta oração seria algo como:

"... e para que não restem dúvidas..."

Ora, sabemos que o português é uma língua de tipo SVO, isto é, o (S)ujeito tendencialmente surge antes do (V)erbo.

Na oração em questão, isso não acontece. O sujeito, "dúvidas", surge depois do verbo. Importa agora fazer a concordância entre o sujeito e o verbo. O sujeito está no plural, logo a pessoa verbal tem que estar no plural. Assim:

"e para não restar dúvidas" é agramatical pois o verbo não concorda em número com o sujeito.

Assim, e para que não restem dúvidas, a oração gramatical é: "e para não restarem dúvidas".

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