28.12.05

Na TAP o Sr. Benvindo recebe-nos a bordo....

No site da TAP pode ler-se : "Benvindo a Bordo!". Parece que as hospedeiras foram despedidas e que agora é o Sr. Benvindo que nos recebe nos aviões. Ou será que quem fez esta página não sabe distinguir "bem-vindo" de "Benvindo" ?

Actualização: O uso impróprio da palavra em questão já foi corrigido. Assim, este artigo já não faz sentido. Fica o registo, no entanto, para quem quer que se preocupe com estas coisas mesquinhas (para uns) ou interessantes (para outros).

22.10.05

A propósito de "haviam"

Num blog onde se discute a correcção linguística, fala-se, a dado passo, sobre o emprego do verbo haver. É uma questão mais do que debatida nas gramáticas e prontuários. Sabe-se que o verbo é impessoal quando é utilizado com um significado sinónimo de existir. Por exemplo:

Haverá muitos que dirão o contrário.

A verdade é que cada vez mais os falantes se esquecem deste pormenor da gramática normativa e regularizam o uso do verbo, utilizando-o como um verbo pessoal em todas as circunstâncias. Estava agora mesmo a ler um artigo escrito por um professor universitário no Gildot a propósito dos problemas que surgiram no STAPE com o sistema informático, na noite das eleições autárquicas. Não pude deixar de verificar que o referido docente estava a fazer uma defesa acérrima de certo sistema operativo, utilizando como argumentos a sua ciência e a sua autoridade académica. São argumentos válidos, naturalmente. Em conformidade, o referido docente assinou o artigo da seguinte forma:

"Paulo Trezentos
(Docente ISCTE, Investigador ADETTI, co-Fundador da Caixa Mágica)
Uffa.. desculpem lá a catrafada de titulos mas para não restar dúvidas. :-)"

Esta assinatura também tem muito sobre que dizer. Desde logo, a ausência da preposição de nos complementos determinativos (Docente do ISCTE, Investigador da ADETTI. Em português, as preposições têm vindo a ser afastadas do discurso. O curioso, aqui, é verificar essa situação num registo de língua cuidado...

De notar ainda a ausência do diacrítico em "titulos". Os meus alunos costumam ter essa prática abominável, o que reduz, em certos contextos, o carácter distintivo da língua (eg: crítica / critica; fábrica / fabrica, etc.)

A frase "mas para não restar dúvidas" sofreu a obliteração do predicado copulativo e por isso parece que a frase complexa ficou inacabada:
"desculpem lá a catrafada de titulos mas para não restar dúvidas" - com esta redacção falta a oração subordinada adversativa. O que o autor deveria ter escrito (escrevido, dizem os puristas) é: "desculpem lá a catrafada de titulos mas é para não restar dúvidas."

Finalmente, ainda na assinatura, constato um aspecto que me é muito caro pois trata-se de uma interferência da fonética na ortografia: "catrafada". O termo está errado (ortograficamente). O autor da assinatura deveria querer escrever "catrefada", mas não soube, apesar dos títulos que alega não deixarem dúvidas...

O que está em causa é uma harmonia vocálica motivada pela presença exclusiva de duas vogais (fonéticas): o "a" (+rec] (a sílaba tónica da palavra catrefada) e o "a" [-rec] (todas as outras vogais fonéticas). O que se passa, então, é que alguns falantes cuja insegurança linguística não lhes permite pronunciar correctamente (do ponto de vista da ortoépia) certas palavras, escrevem essas palavras como as dizem. Assim, como o autor do artigo dirá, correntemente "catrafada", como não conhece a palavra escrita, vai escrevê-la como fala: "catrafada" pois foneticamente, o "e" [+coronal] da sílaba tónica transforma-se em "a". Um fenómeno semelhante, embora envolvendo vogais diferentes, ocorre em "bêbedo" e "acelerador", mas talvez com menos frequência (espero) resultando nas formas ortográficas "bêbado" e "acelarador".

Voltando ao artigo, em questão, o autor da assinatura afirma a dado passo:


"Sei que haverão alguns que na comunidade SL/A questionem a justiça de ser o ISCTE e a ADETTI a trabalhar neste projecto. Haverão certamente outros grupos com competências SL/A que terão conhecimento e capacidade para o levar avante tão bem ou melhor do que a nossa equipa."


Bastaria a primeira ocorrência do verbo haver para justificar este pequeno artigo no Grafofone. Contudo, o autor, procurando dar algum brilho ao seu texto, recorre à figura de estilo do paralelismo estrutural (recurso até relativamente simples e pobre). A sua infelicidade foi fazer incidir o parelelismo sobre o verbo que usa incorrectamente: "haverão".

Para além destes exemplos, o autor, no referido site dá-nos outros da utilização imprópria do verbo:

"Já fiz num post anterior uma pequena estatistica e haviam no GilDot menos artigos de Caixa Mágica do que de outras distribuições."
"Nos ultimos tempos já houveram vários artigos sobre questões relacionadas com a CM... O que sendo um forum de Linux em Portugal, também não é esquisito de todo, mas pode ser aborrecido."
"O local é o mesmo mas o enquadramento conta com algumas novidades: abertura e convite a novos parceiros (IBM, Sun, IBS, TBA, Bull, Red Hat, DRI,...) para demonstrarem as suas possibilidades, é o dia inteiro e haverão alguns stands com soluções sobre Linux e SL/A."

Em suma: os títulos e os cargos de nada servem e não dissipam dúvidas.

Os restantes editores do Gildot que não se fiquem a rir. Uma pesquisa rápida no Google mostra que muitos têm que ter cuidado com a sua gramática:

haviam site:gildot.org - 59 resultados
"Haviam addons que adicionavam estas funcionalidades..."
"Haviam addons que adicionavam estas funcionalidades. ... Haviam Também terminais Ethernet"
"haviam muitas tarefas que earam mais fáceis de realizar no Linux"
"Não haviam rádios online ou FM/AM?"
etc.

houveram site:gildot.org - 11 resultados
"Oficialmente não houveram versões intermédias."
"É verdade que houveram interesses no técnico durante muito tempo."
"Houveram rumores de negociações com a Google,"
etc.

21.10.05

CEBES - O Colégio onde as senhas de almoço se compram aos gritos

No "site" do Colégio Cebes, as senhas de almoço compram-se aos gritos, com murros na mesa e se calhar algumas bofetadas. Veja-se o texto:

"As senhas de refeição estão à venda na secretaria e
deverão ser adquiridas na véspera e no próprio dia
imperativamente, até às 09H30." (in CEBES, negrito meu).

Ora, no site do Priberam - Dicionário online, pode consultar-se o sentido do termo "imperativamente":

"derivação de imperativo
imperativo
do Lat. imperativu
adj., que manda com autoridade;
que impõe;
s. m., ordem, imposição;
Gram., modo verbal que exprime ordem, exortação ou pedido."

Naturalmente o texto deveria conter o termo impreterivelmente:

"derivação de impreterível
impreterível
adj. 2 gén., que se não pode preterir;
que não pode deixar de se fazer;
que se não pode adiar." (op. cit.)

A confusão lexical é aceitável, considerando a proximidade dos fones que compõem os termos "imperativamente" e "impreterivelmente": o mesmo prefixo (im-), o mesmo número de sílabas, o mesmo sufixo (-mente). A diferença reside na realização morfológica das palavras primitivas: "-perativa-" num caso e "-preterivel-" no outro.

Explicada a facilidade com que os termos se podem trocar, resta-me pedir aos alunos do CEBES que não batam muito, nem gritem muito alto aos ouvidos dos funcionários da secretaria, quando forem comprar uma senha de almoço...

14.10.05

LUSOFONIA

Encontrei por acaso este artigo sobre política de língua aplicada ao português que me pareceu muito interessante:
LUSOFONIA