Hoje faz cinquenta anos que morreu (na miséria e escorraçado pelo governo português de então) Aristides de Sousa Mendes. A sua actuação durante a II Grande Guerra terá salvo centenas de milhares de pessoas da morte em campos de concentração. O jornalista da Sic Notícias, Mário Crespo, estava a apresentar uma pequena reportagem sobre a actuação de Aristides de Sousa Mendes, quando o ouço dizer "ajudou a população judia". Pois realmente a verdade é que essa afirmação é falsa... Quem ele ajudou efectivamente foi a população judaica.
Mário Crespo: errar é humano, mas há erros e erros. Para quem está numa posição na qual o que diz é ouvido por milhares de pessoas e tido como normativamente correcto, torna-se importante ter atenção a estes deslizes. Não me leve a mal, se calhar fui eu que ouvi bem demais!
Para que não restem dúvidas:
os adjectivos biformes terminados em -eu formam o feminino em -eia: europeu, europeia; hebreu, hebreia. Contudo, judeu e sandeu são excepções: judia e sandia. Mas a questão não reside aqui. O jornalista utilizou uma analogia entre o substantivo gentílico e o adjectivo correspondente. É que na maioria dos casos, ambos são iguais. Ex.:
português - civilização portuguesa;
alemão - civilização alemã;
russo - civilização russa;
italiano - civilização italiana.
Mas:
judeu - civilização judaica;
hebreu - civilização hebraica. (por acaso o povo também pode ser chamado de hebraico).
Conclusão: cuidado com as analogias. Há diferenças e existem por variados motivos. A de judaica reside na etimologia (do latim judaicus, a, um e por sua vez do grego ioudaikos, e, on).
4.7.04
Em memória de Sophia
Um dos expoentes máximos da literatura portuguesa contemporânea desapareceu. A língua ficou mais pobre...
Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento:
Não há saudades nem terror que baste.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975
Cada dia é mais evidente que partimos
Sem nenhum possível regresso no que fomos,
Cada dia as horas se despem mais do alimento:
Não há saudades nem terror que baste.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Antologia
Círculo de Poesia
Moraes Editores
1975
3.7.04
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